Há alguns dias assisti a um
filme daqueles de tocar a alma. Tenho visto filmes legais, mas este foi
diferente. Se há um oásis escondido dentro de nós, de água pura e serena, cujo caminho
até ele, às vezes, nos esquecemos, Roma, com seus personagens
extraordinariamente humanos, se encarrega de nos iluminar o caminho. Assistir a
esse filme foi o mesmo que tocar essas águas e saciar a minha sede.
O filme, semi-autobiográfico, conta a história dos
primeiros anos de vida do próprio autor – Alfonso Cuarón, sob o olhar da
doméstica Cleo. Se passa no distrito de Colonia Roma, na Cidade do México, nos anos 70. Cleo
engravida na primeira relação sexual de sua vida e é abandonada.
Simultaneamente, sua patroa é deixada pelo marido e se vê sozinha na criação de
quatro filhos. Juntas, comungam o amor por essas quatro crianças e aquela força
que brota quando mais frágil nos encontramos.
Não sei ao certo o segredo do
filme. Talvez uma combinação de fatores: sensível, descaradamente cotidiano,
simples, real, bem produzido, impecável.
Há muito para se destacar
nesse filme, mas foi sua dualidade e a sinergia desses opostos, em movimento,
que proponho aqui um destaque.
Fotografia em preto-e-branco,
contexto público e privado, classe social baixa e média, abandono e
acolhimento, fragilidade e força, doçura e amargor - opostos em movimento, como
yin e yang, fazem a roda da vida girar desenrolando uma história tocante,
daquelas que acendem uma luzinha dentro de nós.
O que dizer também da beleza da
sororidade entre as duas mulheres – patroa e doméstica - tão diferentes e tão
parecidas ao mesmo tempo. Compartilham, para além das dores coletivas do
feminino, o amor por aquelas crianças, a amargura do abandono, nos revelando
uma verdade por vezes esquecida – a de que a própria dor nos sensibiliza para a
dor do outro, e nesse encontro, para além da empatia, nos curamos e nos
fortalecemos.
Numa das últimas cenas, onde
Cleo, entorpecida de sofrimento pela recente perda que teve, entra em mar agitado para salvar as crianças, sem saber nadar, vislumbramos, talvez, a mais preciosa mensagem dessa obra
prima: ao salvar o outro, nos salvamos de nós mesmos.
Muito bom, Vanessa. Parabéns por mais essa resenha!!!
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