sábado, 6 de junho de 2015

O Sal da Terra - Documentário / Biografia - 2014

Direção: Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado



Ontem assisti ao documentário sobre a vida e obra do fotógrafo Sebastião Salgado. Não tinha a mínima ideia do caminho a que essa narrativa me conduziria. Subjuguei o poder que as imagens artísticas, por mais belas que fossem, poderiam me causar. Ou melhor, acreditei que seriam apenas “belas imagens”, como já havia visto em algumas exposições do mesmo artista, em outras ocasiões. Não que elas não tenham me tocado antes, mas seu toque, até então, havia sido superficial. Haviam me tocado o intelecto , o racional, e ligeiramente o coração. E o corpo, naquelas ocasiões, diante daqueles imensos painéis, dizia: que incrível! Que bárbaro!


Mas dessa superficialidade só vim a saber ontem, após ouvir a amarração narrativa de todas essas imagens; após a explicitação do cordão umbilical que une essas imagens ao seu criador – artista e obra, agora juntos, numa exposição cinematográfica – da própria vida!


O que antes era belo se tornou sublime! Meu corpo não deu conta de suas exclamações de encanto, só conseguia chorar. E ainda choro...

(...)

Um choro raro, incomum pro meu ser. De uma desesperança que me extrapola. Desesperança na própria humanidade que eu experimento em mim, cotidianamente. Racionalmente formulo-me a pergunta: como pode a espécie humana ir da barbárie à imaculada ação? Já o coração, não faz perguntas - só observa a lágrima, no seu trajeto quente, tornando-me consciente do meu próprio corpo, me fazendo sentir que eu também sou essa crueldade em última instância.

Não sou assim, tão pessimista. Porém, nessas últimas horas que sucedem o filme, ainda vago nesse universo de descrença e desesperança acerca da humanidade.


O documentário, ao revelar a vida e obra do artista, revela-nos, simultaneamente, a complexidade humana, sua polaridade, a diferença entre o “meu mundo” e os “outros mundos”. Em 94, enquanto “meu canto no mundo” se coloria com a descoberta do primeiro amor, “outros cantos no mundo” só conheciam o vermelho rubro de muito sangue exposto. E assim oscilamos: da luz às trevas; da glória à vergonha; da graça ao absurdo. E tudo isso dentro de nós!


Sob o ponto de vista da trajetória do artista, o ciclo se fecha harmônico e naturalmente, como convém a um herói. A “jornada do herói” é nítida em cada uma de suas fases. Ele nasce em Minas, se casa, e ainda jovem adulto, descobre seu dharma. Sacrifica os “seus”, ao seguir seu chamado, ficando mais tempo distante da família do que em seu convívio. Chega ao apogeu de sua profissão, sendo reconhecido e respeitado mundialmente; Enfrenta suas dores ao ser testemunha da crueldade e desconexão humanas; recua, se deprime; A partir do retorno às suas origens, do contato com a natureza, agora como cuidador (e não mais uma testemunha), ele recupera a fazenda de seu pai, em Minas, já muito degradada, iniciando seu processo de cura e preparação para o mistério que a idade já avançada lhe acena.