quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Sobre o filme "Preto ou Branco" - de Mike Binder


Se o recomendo? Bem, depende do tamanho de sua lista de prioridades diárias. Não se trata de um filme excelente, imperdível. Mas há algo nele que despertou meu interesse, desencadeando uma reflexão que me levou a outras direções, bastante interessantes. Se não o levar também, pelo menos garanto a atuação impecável de Kevin Costner. Seus olhos são expressivos demais pra minha pessoa! Kkk...
Muito mais do que tocar no tema sobre o racismo como sugere o nome do filme - um racismo alimentado pela própria raça afligida, como faz Jeremiah Jeffers (advogado irmão da vó paterna), sobre o vício que apaga qualquer vestígio de dignidade (Reggie, o pai viciado), este filme sussurra otras cositas más, como, por exemplo, os atributos do Feminino, personificado pela avó Rowena, mãe do pai viciado. Toca também no tema da mágoa bem guardada, numa espera silenciosa por um pedido de perdão, como ponto de partida para a cura. E como se não bastasse, mostra esse impiedoso vício humano de negar nossos vestígios animais.
Pois bem: Rowena é a mulher que acredita no ser humano, que acredita no amor; um arquétipo da grande mãe bem encarnada, que não desiste do filho, que se faz forte para manter a família unida e em harmonia, que procura uma relação harmoniosa e justa mesmo com seu “adversário”, que não perde o foco em proporcionar o que for melhor para sua prole. Rowena acredita que trazer sua neta para perto do pai, poderá salva-lo.
Elliot é a outra parte. É o pai que perdeu sua filha sem ter tido a oportunidade de se reconciliar com ela e ampará-la antes de sua morte. É também o avô que tem a guarda da neta. Elliot não vê sua dor e de sua recém falecida esposa reconhecidas por aquele que ele julga responsável pela tragédia familiar. Neste caso, o arrependimento do vilão (Reggie) - seu pedido de perdão, é um passo necessário para seu processo de cura, e Elliot vive à espera desse dia.
Mas, particularmente, o ponto crucial do filme está na cena do tribunal, onde o avô é interpelado sobre ser ou não racista. Irônico, porque o racismo está, de fato, na outra parte, do lado dos próprios negros. É o avesso do avesso do Caetano!
O mérito dessa obra está em extrapolar esse tema (sou ou não racista), e aprofundar numa questão humana que nos lembra que também somos animais, que temos instintos, que fazemos reconhecimentos por meio dos opostos (preto/branco; claro/escuro; frio/quente) que não devemos ser interpretados pelo nosso primeiro pensamento/ reconhecimento/julgamento, mas pelo que vem depois - nosso segundo, terceiro, quarto pensamento, pelo que fazemos a partir daí. Um homem vê uma mulher e a primeira coisa que “reconhece” são seus peitos. Tá! E daí? Ele é um tarado? Sou apresentada à nova colega de trabalho, uma negra. Primeiro reconhecimento: minha pele é branca, a sua é negra. E??? O que se segue? A questão não é se isso é legal ou não que se dê num “ser de bondade” (nós humanos!), mas reconhecermos nosso lado instintivo para, um dia quem sabe, podermos transcender essa ilusão da separatividade e nos tornarmos plenamente conectados com tudo e com todos.

Você pode se perguntar por que tomei um rumo de reflexão tão improvável. Bem, desconfio que tudo veio à tona porque, no dia anterior, assistindo o canal da National Geographic, aprendi que as hienas organizam um ataque em grupo à sua presa, geralmente de porte muitas vezes maior que os seus, e a come viva. Num primeiro momento me pareceu tão brutal, tão violento. Um hemisfério “além do animal” fazendo julgamentos de um outro que evita reconhecer como seu. Complicou? Vou tomar um recurso poético. Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) pode nos ajudar.
“Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.  Mas não penso nele
     Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)                  
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
     Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
     Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
     Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...”




7 comentários:

  1. Vi o filme e gostei muito. Seu comentário é brilhante,

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  2. Obrigado por escrever a resenha. Eu gostei do filme. É um dos filmes dramáticos mais tocantes. Black or White tem um inicio muito preguiçoso, mas conforme transcorre a história vai te captando e envolvendo no conflito.

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  3. Qual o nome da música q toca no final do filme?

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  4. Qual o nome da música que toca no final do filme ? Filme muito bom e que ajuda em nossa reflexão.

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