Era um fim de semana “sem
autonomia”. Explico-me: sem combustível para a Maria Gasolina aqui desembestar
com seu pimpolho. Após uma maratona leve e em agradável companhia no Parque da
Cidade, chego em casa e proponho um filminho antes do almoço que encaixasse
naquele domingo quase inerte.
Despretensiosamente, escolhemos
um “francesinho” que nos garantisse um mínimo entretenimento dominical.
Ahhh, mas que grata surpresa
tivemos. En équilibre se revelou um
presente inesperado e tocante.
Um filme de 2015, escrito e
dirigido por Denis Dercourt. Conta a história de Marc Guermont, um experiente
dublê equestre que sofre um acidente durante uma filmagem e se vê, diante de um futuro financeiro incerto e escasso, pressionado a assinar um
acordo indevido e apressado com a seguradora.
A perita de seguros designada
para seu caso, Florence Kernel, se caracteriza por ser bastante diplomática,
cordial e simpática em suas tratativas, diferente de seus colegas de trabalho
mais linhas-duras e agressivos. Ela tem como missão fazer Marc assinar o
contrato em um curtíssimo prazo de tempo, de modo a não lhe dar tempo de uma
avaliação mais cuidadosa.
Todavia, sua estratégia não
funciona muito bem com Marc, que não se sucumbe à pressão de uma decisão
precipitada e veladamente danosa. Marc não sofre de desespero. Equilibra
lucidez e paixão pela vida. É obstinado, forte, e sabe sem saber, que é cocriador
da sua existência.
É nesse intervalo de tempo – de
persuasão e resistência, que o amor acontece. A força e obstinação daquele homem
inspiram a esquecida pianista escondida por trás da perita de seguros a acordar
seu dom. Sua sensibilidade para a música sempre esteve ali, mas faltava-lhe a perseverança
que o acreditar em si-próprio promove; o esforço diário, o suor, a dedicação que
nos revela/relembra nosso talento pessoal. Foi necessária a admiração por
aquele homem, desdobrada em amor, para que seu dharma surgisse claro e forte a
ponto de fazer Florence abandonar o trabalho na seguradora e se dedicar
novamente à música.
Não vou aqui narrar toda a história, afinal,
pretendo apenas que este texto seja um convite. Porém, desse filme, posso
assegurar: que a história de amor não é piegas, que a deficiência física não se
apoia em vitimismo, lamentos ou queixas, e que o heroísmo não é “norte-americano”, ao contrário,
é sutil, belo e inspirador.
Bacana mais essa resenha, Vanessa. O texto é até curto, mas cumpriu perfeitamente o propósito por você declarado: fiquei com vontade de ver o filme! Aliás, devo registrar que sou um admirador da escola francesa de cinema.
ResponderExcluirParabéns pelo post!
E aí, conseguiu assistir? Gostou?
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